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Obras e Publicações

A Alma, Segundo Salustre

A Alma, Segundo Salustre

Não sabemos ao certo a origem deste projeto – o último de Mário Peixoto. Tudo indica, que era uma adaptação de “Maré Baixa” ou “Mormaço”, um projeto desenvolvido entre 1935 e 1936, com Pedro Lima, e que não foi adiante. Parece que, em 1948, Mário, convidado por Affonso Campiglia a realizar um filme fundiu a ideia de “Maré Baixa” com a de outro “scenário”, “Onze almas”, e daí nasceu “Sargaço”, que João Tinoco de Freitas dirigiria com a supervisão de Mário Peixoto. O projeto juntamente com o de “Muiraquitã”, que seria dirigido por Jonald, crítico de cinema de “A Noite”, foi muito anunciado mas, subitamente as notícias cessaram e os produtores passaram a anunciar que fariam apenas um filme “Estrêla da Manhã” com “scenario” de Jorge Amado, direção de Jonald e fotografia de Rui Santos, e o nome de Mário Peixoto e “Sargaço” desaparecem dos jornais. Mário Peixoto então transformou “Sargaço” em “A alma, segundo Salustre”.

Em 1950, Plínio Süssekind Rocha, levado por Francisco Luís de Almeida Salles à Vera Cruz, propôs a Alberto Cavalcanti a produção de “Salustre”, mas Cavalcanti recusou. Mais uma vez, um filme de Mário não se adequava ao “modelo” que estava sendo criado para o filme brasileiro. Em 1965, um pedido de financiamento ao Banco do Estado da Guanabara foi negado. Em 1971, chega a circular que o filme seria feito com Brigite Bardot no elenco. É possível que Mário tivesse alguma promessa de financiamento, mas os fatos são nebulosos.

Entre 1982 e 1983, Carlos Augusto Calil tentou, com pertinácia, produzir a “Alma segundo Salustre”, sem sucesso; mas, em 1983, publicou, pela Embrafilme, o scenário do filme. Finalmente, em 1985, Rui Santos, então ligado a uma produtora carioca, interessa-se pelo projeto. Novo fracasso. Mário não aceitou a dona da produtora no papel principal.

Desde então, cessaram todas as tentativas de Mário Peixoto realizar “Salustre” ou qualquer outro filme.

Barro Humano

Considerado um marco do cinema mudo brasileiro, “Barro Humano” foi a corporificação dos ideais estéticos dos redatores da revista Cinearte. Apoiados no modelo de filme brasileiro industrial e artisticamente consistente que defendiam nas páginas da revista, Adhemar Gonzaga, Pedro Lima, Paulo Wanderley e Álvaro Rocha, em meados de 1927, decidiram se associar ao fotógrafo e produtor Paulo Benedetti para a realização de “Barro Humano”.

De produção lenta e acidentada, o filme foi concluído apenas em janeiro de 1929. O roteiro, de Paulo Wanderley, contava a história de duas moças, Vera (Gracia Morena), e Gilda (Lelita Rosa), que tinham sido educadas de forma diferente e acabavam tendo um destino semelhante.

Procurando retratar os costumes e os modismos da cidade, “Barro Humano” foi grande sucesso de público e crítica e representou a afirmação do “modelo” cinematográfico proposto por Cinearte, que culminou na fundação da Cinédia em 1930.

Chaplin Club

Chaplin Club

Foi o primeiro Cine Club brasileiro, tendo sido fundado em 13 de junho de 1928 por Octávio de Faria, Plínio Süssekind Rocha, Cláudio Mello e Almir de Castro. Os três primeiros tinham sido colegas de Mário Peixoto no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria, no Catete, no Rio de Janeiro. Almir de Castro era do Colégio Santo Ignácio.

Todos os quatro já eram universitários, quando o club foi fundado: Octávio estudava na Faculdade de Direito do Catete, Plínio na Politécnica, e Almir e Cláudio na Faculdade de Medicina. A primeira sede do Chaplin Club foi na residência de Plínio, na Rua Benjamin Constant, transferindo-se depois, para a residência de Cláudio Mello, no 62 da Rua D. Anna, hoje Jornalista Orlando Dantas.

Os sócios, inicialmente os quatro, reuniam-se periodicamente para discutir filmes e cinema. Depois, o clube ampliou-se: admitiram-se novos sócios e passaram à exibição. As reuniões eram formais: os sócios apresentavam por escrito seus textos que, em reuniões seguintes, eram discutidos. Alguns eram então publicados em “O Fan”, que era o órgão oficial do clube. Dessas discussões, a mais importante foi o debate sobre “Sunrise” que opôs Plínio Süssekind Rocha (contra) a Octávio de Faria e a Almir de Castro (a favor).

É possível que este debate tenha chegado a Mário Peixoto por meio das conversas com Octávio de Faria e tenha tido importância para a formação cinematográfica de Mário.

O Chaplin Club terminou, vítima do cinema falado e da atividade universitária de seus diretores-fundadores.

Cinearte

Fundada em 3 de março de 1926 por Adhemar Gonzaga e Mário Behring, Cinearte foi a principal publicação cinematográfica de seu tempo. Inspirada nas revistas de fãs americanas Classic e Photoplay, Cinearte promoveu a primeira campanha sistemática em defesa do cinema brasileiro.

Seus redatores – Gonzaga, Behring, Pedro Lima, Paulo Wanderley, Álvaro Rocha e Sérgio Barretto Filho – acreditavam no surgimento de uma verdadeira indústria cinematográfica no país, baseada no “modelo” hollywoodiano.

Além de promover o “star system” americano com uma profusão de fotografias dos astros e das estrelas de Hollywood, Cinearte dedicava regular espaço à técnica cinematográfica e ao cinema educativo, procurando exercer um papel de formadora de opinião e disseminadora da cultura cinematográfica no país. Das ideias defendidas pela revista, resultaram dois marcos na história do cinema brasileiro desse período: o filme “Barro Humano”, de 1929 e a Cinédia, fundada em 1930.

Cinearte circulou durante 16 anos, de março de 1926 a julho de 1942.

Mundéu

Livro de poemas de Mário Peixoto, publicado em 1931 pela tipografia São Benedicto, no Rio, em edição custeada pelo próprio autor.

Recebeu o seguinte comentário de Manoel Bandeira: “com vozes profundas dos complexos da infância e no desolado ambiente da vida rural sul-fluminense, a poesia de Mário Peixoto impõe-se por um senso trágico da existência e uma poesia forte, de ritmo muito peculiar, bem caracteristicamente brasileira”. (cinta do livro, quando lançado em 1931).

O livro recebeu também uma crítica extremamente favorável de Mário de Andrade.

Em 1996 a Editora Sette Letras publicou uma segunda edição do livro.

O Inútil de Cada Um

O romance “O inútil de cada um” foi publicado inicialmente em 1934. Mário usou neste livro o nome de Mário de Breves. Foi impresso pela gráfica que fez Mundéu: a São Benedicto, em edição paga por Mário Peixoto.

Em 1935 o livro foi reimpresso por Augusto Frederico Schmidt. Mário, desta vez, usou nome correto: Mário Peixoto. Diz Mário que o pai não gostou do livro, comprou toda a edição de 1934 ou a de 1935, isso não sabemos, e a queimou.

Provavelmente a partir de 1967, Mário encontrou um exemplar do romance, possivelmente o de 1935, e iniciou com base nele uma vasta expansão de “O inútil de cada um” para seis volumes. O primeiro apareceu, pela Record, graças a Jorge Amado, em 1984. Os restantes cinco volumes permanecem inéditos e estão depositados no Arquivo Mário Peixoto.

Em 1996, a Editora Sette Letras publicou uma segunda edição da versão 1934/1935.

O Inútil de Cada Um

Onde a Terra Acaba

O “scenario” do filme foi escrito por Mário Peixoto durante a montagem de Limite, a pedido de Carmen Santos que produziria e estrelaria o filme. Inicialmente, tinha o nome de “Sonolência” e o manuscrito com esse nome está no Arquivo Mário Peixoto.

Teve o título mudado para “Onde a Terra Acaba” por insistência de Carmen Santos que achava “Sonolência” ser não comercial. As filmagens começaram em 13 de maio de 1931 na praia do Sino, na restinga de Marambaia. Carmen Santos, a “estrela”, contracenava com Raul Schnoor e Brutus Pedreira, e Edgar Brasil fotografava.

Provavelmente entre outubro e novembro, Mário e Carmen se desentenderam e o filme foi suspenso. Carmen continuou a produção com uma outra história, uma adaptação de “Senhora” de José de Alencar, com outros atores e outro diretor, Octavio Gabus Mendes, que tinha recém-terminado “Mulher” para a Cinédia, mas foi mantido o título, pois nele tinha sido investida muita publicidade.

É possível que a indicação de Gabus Mendes tenha partido de Adhemar Gonzaga. Edgar Brasil permaneceu e Rui Costa veio para a equipe. O filme demorou-se em produção e foi transformado em Vitafone, tendo sido exibido em 1933. Fracasso de público e de crítica, ficou apenas três dias em cartaz.

O filme não existe mais, destruído em um incêndio na Brasil Vox Filmes. Em 1934, Carmen reconciliou-se com Mário e deu a ele a cópia do que ele tinha filmado da primeira versão de “Onde a Terra Acaba”. Esses fragmentos foram depositados na Cinemateca Brasileira, mas podem ser vistos no Arquivo Mário Peixoto.

Em 1946, Mário Peixoto tentou refilmar, ainda com Carmen Santos, o “scenario” que havia transformado em filme falado, no ano de 1932. Mário Peixoto trocou o título para “O Sono Sobre a Areia”, mas Carmen insistiu em voltar ao antigo título. O projeto não teve continuidade.

Outras Obras

Após o lançamento do CD-rom Limite, foram publicados mais três livros póstumos de Mário Peixoto nos anos 2000, organizados por Saulo Pereira de Melo e editados pelo Arquivo Mário Peixoto e pela editora Aeroplano.

Escritos Sobre Cinema reúne quatro artigos dedicados à arte cinematográfica, sendo publicado em 2000. O primeiro deles é “Cinema caluniado”, que foi escrito a pedido de Pedro Lima, em abril de 1937, após a reconciliação entre Mário Peixoto e Carmen Santos. Foi originalmente publicado em O Jornal, de 6 de maio de 1937. O segundo artigo é “Motivos para um diretor”, que foi publicado em O Jornal, em 31 de agosto de 1947, e republicado em 4 de julho de 1948, no mesmo periódico, editado por Pedro Lima. O terceiro artigo se intitula “Momento”, publicado em O Jornal, em 19 de setembro de 1948. O quarto e último é o mais célebre. Intitula-se “Um filme da América do Sul”, que foi originalmente publicado na revista Arquitetura nº 30, em agosto de 1965, a pedido de Carlos Diegues. Trata-se do suposto artigo que teria sido escrito pelo cineasta e teórico soviético Serguei Eisenstein, quando este teria assistido Limite em Paris. Na verdade, o artigo foi escrito pelo próprio Mário Peixoto, que criou a narrativa de que Eisenstein teria visto o seu filme e escrito uma crítica sobre ele. Assim, pela primeira vez, “Um filme da América do Sul” é publicado com a sua verdadeira autoria.

Poemas de Permeio com o Mar é uma coletânea de poemas, escritos entre 1933 e 1955, e publicada em 2002. A relação com o mar e o caráter fortemente imagético dos textos os aproximam de Limite.

Seis Contos e Duas Peças Curtas reúne pequenos textos ficcionais e duas peças de teatro, escritos durante a juventude de Mário Peixoto. A coletânea foi publicada em 2004.

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