Ensaio
A Forma de Limite
Por Maria Christina Ennes Emmerick
O universo da fotografia em cinema compreende a seleção do tipo de câmera e do tipo de lentes, a iluminação, a composição da cena e os movimentos de câmera e de atores. Na montagem, as partes se juntam na forma de fotogramas encadeados numa tira que, girando ao ser projetada, criará uma sequência de imagens retangulares não permanentes.
Limite foi feito em P&B, com película de 35 mm e filmado a 16 quadros por segundo. Na época, eram caros e raros os equipamentos. A produção teve recursos para utilizar três câmeras fotográficas, na mão ou em tripé. Não há cenas noturnas em Limite; foi utilizada predominantemente a luz do dia e um enorme guarda-sol que aparece em várias fotografias de produção. Edgar Brasil construiu diversos dispositivos para obter os enquadramentos e os movimentos de câmera que marcaram seu trabalho. Além dos dispositivos materiais, como articulações de câmera e pranchas de tração humana, Edgar empregou dispositivos lógicos rigorosos nos enquadramentos e movimentos de câmera. Percebe-se a personalidade do fotógrafo na técnica e na experimentação planejada que resultaram nos belos planos de Limite.
Na composição dos planos, os atores, os objetos e os elementos da natureza são enquadrados sempre como partes num todo. Esses elementos e os objetos têm a mesma importância que os personagens quanto à dinâmica na montagem.
Um mesmo padrão formal é mantido ao longo de todo o filme. Existem linhas de força que são circulares, representadas pelos objetos dos cenários, movimentos de câmera e pela montagem.
Outras linhas de força são relacionadas às diagonais do quadrilátero formado pelo fotograma e às suas subdivisões vertical e horizontal, das quais o fotógrafo se utilizou na forma dos objetos, na composição da cena e nas angulações e movimentos de câmera.
É muito evidente a estreita relação formal mantida entre os planos pelo emprego dos detalhes e da geometria. Admito observar que estes artistas poderiam estar motivados por profundos significados simbólicos advindos da arte de comunicar sem palavras que estavam dominando com os recursos tecnológicos e estéticos do seu ambiente. Nesse mesmo tempo, o cinema sonoro entrava no mercado, extinguindo o cinema mudo.
O filme analisado vai sempre provocar um forte movimento entre a forma e o conteúdo. A repetição dos fotogramas, dos movimentos, os detalhes, o silêncio dos personagens, um fundo musical com piano ou orquestra de autores clássicos permitem a percepção evidente de coisas ocultas na imagem que transporta a mensagem. Sempre serão descobertas novas informações, e este é o mistério de Limite.