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Decupagem

Sequência 8

História de Raul 2 – 8.1. natureza

239 – PG da língua de terra
240 – Pegadas sobre a areia. Carrinho para frente
241 – Detalhe do tronco com planta parasita (negativo e invertido)
242 – Tronco e pedras com água (negativo e invertido)
243 – Campina vazia em diagonal
244 – Detalhe da planta parasita (diagonal)
245 – Detalhe da árvore com planta parasita (negativo)
246 – Campina vazia
247 – Detalhe da árvore seca
248 – Detalhe da árvore refletida na água
249 – Campina vazia. Panorâmica direita-esquerda sobre a água e panorâmica esquerda-direita sobre a campina
250 – Relva
251 – Detalhe da árvore seca (negativo)
252 – Detalhe do poste telegráfico (negativo e invertido)
253 – Panorâmica esquerda-direita sobre a campina
254 – Detalhe dos ramos secos
255 – Detalhe de baixo do arco (invertido)
256 – Detalhe do arco frontal
257 – Detalhe da arcada em diagonal (mais escura)
258 – Detalhe dos cactos sobre a areia /
259 – Pegadas sobre a areia apagadas pelas ondas que chegam da esquerda, por duas vezes /

A fusão relaciona-se à mesma língua de terra da sequência 6 ([239] cf. [208]). As pegadas sobre a areia são enquadradas sem registrar nenhuma presença humana. Nesta sequência, se recolocam os mesmos fotogramas da sequência 6 com algumas inversões de fotograma. A árvore com parasitas ([241] cf. [212]) é colocada em negativo e ao contrário, assim como o tronco, a pedra e a água ([242] cf. [213]), a campina vazia em diagonal ([243] cf. [214]), a planta parasita ([244] cf. [215]), aqui em negativo, a árvore com parasita ([245] cf. [216]), a campina ([246] cf. [217]), aqui sem personagens, os ramos ([247] cf. [219]), o reflexo da árvore ([248] cf. [220]) e a campina [249], aqui sem as roupas e com a mesma panorâmica sobre a água de avanço e recuo, caules de plantas ([250] cf. [222]), coqueiro ([251] cf. [223]), aqui em negativo, o poste do telégrafo ([252] cf. [224]), aqui em negativo e ao contrário, e ainda a panorâmica sobre a campina [253], os ramos secos ([254] cf. [226]), aqui enquadrados de outra angulação, as ruínas ([255] cf. [227]), aqui invertida, ([256] cf. [228], [257] cf. [228], aqui mais escura), os cactos ([258] cf. [229]). Como se pode notar, a ordem de sucessão em relação à sequência 6 não mudou. A única diferença está na ausência de pessoas e objetos que marcam a sua presença (vestidos sobre a campina). A sequência se fecha com o plano da areia [259], cujas pegadas, último testemunho da passagem do casal, são apagadas pelas ondas. Segundo Pereira de Mello, a caminhada seria um dos atos inúteis, privados de eficácia, na medida em que não deixa nenhum traço, assim como as mãos de Raul não conseguem segurar os pauzinhos ([234] e [236]). Corte.

História de Raul 2 – 8.2. a casa da mulher

260 – Detalhe de pés femininos. Panorâmica dir.-esq./alto-baixo sobre pés masculinos. Panorâmica baixo-alto sobre o beija-mão de Raul. Panorâmica alto-baixo. A mulher sai de campo à direita. Panorâmica dir.-esq./alto-baixo sobre os pés masculinos que se voltam, retornam como no início e saem de campo à esquerda /

Depois do corte, o enquadramento dos pés femininos sobre a soleira de uma porta aberta dá indicações sobre o contexto doméstico. Como na primeira e na segunda história, também na de Raul há o detalhe de uma porta que está ligada a um encontro entre dois personagens de sexo diferente e que precede uma fuga. O encontro de Raul recorda, além disso, aquele de Olga porque se desenvolve fora da porta e porque é detalhado sobre pés e mãos ([260] cf. [39]). A sequência 8.2 é um plano microssequência assim como a sequência 2.1.

História de Raul 2 – 8.3. corrida para o cemitério

261 – PG da paisagem de baixo. Entra em campo Raul ao fundo à esquerda, que avança na direção da câmara até sair de campo /
262 – Detalhe dos pés de perfil que caminham à esquerda, seguidos por carrinho esquerda-direita. Em superexposição, as pilastras de uma ponte. Então apenas os pés. Em superexposição, as grades de uma cerca. Panorâmica baixo-alto, depois panorâmica esquerda-direita e panorâmica alto-baixo sobre as mesmas grades. Apenas pés /
263 – Detalhe do alto de pés frontais, seguidos por carrinho detrás /
264 – Detalhe de árvore ao vento /
265 – Detalhe de outra árvore ao vento /
266 – PG da paisagem do alto. Entra em campo da direita Raul, panorâmica direita-esquerda a segui-lo. Raul sai de campo à esquerda /
267 – Detalhe de dois coqueiros ao vento /
268 – Detalhe dos pés de perfil que caminham à direita, seguidos por carrinho esquerda-direita /
269 – Campina ao vento /
270 – Detalhe dos pés por trás, seguidos por carrinho para frente /
271 – Rocha /
272 – Detalhe do alto dos pés, seguidos por carrinho para frente /
273 – Campina ao vento /
274 – Detalhe dos pés frontais, seguidos por carrinho de trás /
275 – Detalhe dos pés de perfil que caminham para a esquerda, seguidos por carrinho direita-esquerda /
276 – Detalhe dos pés por trás seguidos por carrinho para frente /
277 – Detalhe dos pés de perfil que caminham para a direita, seguidos por carrinho esquerda-direita /
278 – Detalhe do alto dos pés, seguidos por carrinho para frente /
279 – Panorâmica esquerda-direita veloz sobre a campina, oscilações por cinco vezes /
280 – Natureza do alto. Entra em campo da esquerda Raul, seguido por carrinho esquerda-direita e sai de campo à direita /
281 – Detalhe árvore /
282 – Detalhe árvore /
283 – Detalhe árvore /
284 – Detalhe árvore /

Com um corte, começa a corrida-fuga que é enquadrada de baixo ([261] cf. [40]), como na história de Olga com a tomada da estrada vazia e a sucessiva entrada em campo do personagem e a sua saída, enquanto na fuga de Olga o enquadramento era do alto. Raul, por provir de um contexto urbano, começa a sua fuga pela natureza ao contrário das duas mulheres, que, antes de chegarem à zona rural, atravessam a cidade. No plano [261], surge Raul à distância, muito pequeno, que se aproxima (Olga se distanciava), se avoluma (a câmara está ao nível do solo) e passa por cima da câmara, deixando em campo a mesma árvore que agora aparece menor. O detalhe dos pés [262] que caminham de perfil se sobrepõe ao plano das colunas de um casario (vertical) e das grades de uma cerca (horizontal); superexposições que assinalam a passagem que acontece no espaço e no tempo e que, de modo latente, aludem a um aprisionamento do movimento. As duas pernas [263] marcam diagonais em fusão com linhas ortogonais da cerca. Raul, que enquadrado do alto e de longe entra em campo em uma trilha, é seguido pela câmara e sai de campo. A frondosa copa de coqueiros, como cachos de cabelos, é arrebatada pelo vento [267]. Os detalhes de pés enquadrados de diversas posições (de perfil para a direita e esquerda, de trás, do alto, de frente), são alternados pelos planos da campina ao vento (de [268] a [278]) e depois se sucedem sem plano intermediário, convergindo em uma veloz panorâmica [279] sobre a relva, caracterizada por oscilações que gradualmente se exaurem como se fossem as de um pêndulo. Volta o plano do alto entre as folhas [280], quase voyeurístico, de Raul ao longe, entrando e saindo de campo. Então, os cortes sobre árvores, algumas das quais já enquadradas anteriormente ([281], [282], [283] e [284]).

História de Raul 2 – 8.4. cemitério 1

285 – PM de Raul caminhando e acendendo um cigarro. Carrinho para trás a segui-lo
286 – PG com Raul em PM caminhando. Panorâmica baixo-alto. Raul aproximando-se da câmara e tentando reacender o cigarro. Carrinho para frente sobre o rosto e panorâmica dir.-esq./alto-baixo sobre o muro. Raul entra novamente em campo da direita, cruza a câmara, sai de campo à esquerda. Panorâmica dir.-esq. sobre Raul de costas em PM, apoiado no portão /
287 – Nuvens
288 – PG com Raul de costas em PM, apoiado no portão. Carrinho para frente sobre o portão e além
289 – Mário em PA sobre o túmulo
290 – Detalhe da mão de Mário que toca a aliança /
291 – Nuvens
292 – Raul de costas em PM no portão. Carrinho para frente sobre as costas até o detalhe do paletó. Raul se afasta e se curva. Panorâmica dir.-esq. e carr. para frente até o detalhe da mão de Raul com uma flor. Raul caminha e carr. para frente para segui-lo.
293 – Detalhe da flor. Raul se afasta, para junto ao túmulo e deposita nele a flor /
294 – Contracampo com Raul de frente em PA e Mário de costas em PA /
295 – PG do cemitério /
296 – Detalhe dos cabelos de Raul ao vento /
297 – PA de Raul com cabeça inclinada. Panorâmica direita-esquerda/alto-baixo sobre os pés de Mário, passando pelo túmulo, e panorâmica baixo-alto até o PA de Mário /
298 – Detalhe do alto dos cabelos penteados de Mário /
299 – PA de Mário. Panorâmica veloz esquerda-direita sobre Raul que usa duas alianças. Panorâmica veloz direita-esquerda sobre Mário e rápida panorâmica esquerda-direita sobre PP de Raul, e alto-baixo sobre pés próximos a um sapo que Raul esmaga. Panorâmica baixo-alto até a PP de Raul e alto-baixo sobre seu busto quando está para sair, mas a mão de Mário o segura pelo paletó e depois o larga /
300 – PP de Mário que pede a Raul que acenda o seu cigarro. Raul em PA deposita o chapéu sobre o túmulo /
301 – PP do rosto de Raul de perfil. Panorâmica alto-baixo até o bolso do paletó de onde retira um cigarro e panorâmica baixo-alto sobre o rosto, quando acende um cigarro e se aproxima de Mário /
302 – Detalhe da mão de Mário com uma piteira vazia. Panorâmica esquerda-direita sobre a mão de Raul com o cigarro e sobre o seu rosto /
303 – PA dos dois de perfil do lado oposto. Pan. dir.-esq./baixo-alto segue Raul que se levanta e atira o cigarro ao chão /
304 – PA do alto de Mário de frente. Mário se levanta, seguido pela panorâmica baixo-alto e fala /
305 – Legenda: Você vem da casa da mulher que não é sua /
306 – PA de Mário /
307 – Detalhe de mão que aponta. Panorâmica esq.-dir./alto-baixo sobre o terreno /
308 – PP de Mário que fala /
309 – Legenda: suppondo que ella seja minha como esta foi sua /
310 – PA de Mário que fala e avança para a câmara
311 – PP de Mário que fala
312 – Legenda: e se eu lhe disser que ella é morphetica?… /
313 – PP de Mário que fala
Fusão

Com Raul em PP [285], vemos pela primeira vez, durante o seu relato, claramente um vulto de homem que tenta acender um cigarro. Por meio de um PG, ele é enquadrado na mesma situação até o PP, obtido com a aproximação de Raul da câmara [286], que neste ponto começa a mover-se sobre a paisagem, excluindo Raul até alcançar um muro de onde reencontra o homem que entra novamente em campo, cruza a câmara e sai de campo. A câmara se move para o portão onde se acha Raul de costas. Durante este plano microssequência, a câmara primeiro se antecipa a Raul, depois o alcança. Intervalado pelas nuvens [287], um plano microssequência [288] remete ao plano que havíamos deixado [286], com o PG e Raul de costas. Carrinho para frente até ultrapassar as grades do portão. Em diagonal [289], é enquadrado o túmulo com Mário de lado: percebemos que estamos em um cemitério e encontramos o novo personagem. O detalhe da mão ([290] cf. [108]) apresenta uma aliança; nesse caso, manuseada e não colocada no dedo. Novamente nuvens [291] e, pela terceira vez, PG com Raul de costas ([292] cf. [286] e [288]). Carrinho para frente até o detalhe do paletó desfocado (quase como uma fusão em branco), que mostra a entrada de Raul no cemitério. Segue o afastamento de Raul da câmara até um PM, como no início, que está para colher uma flor: então, a câmara se move para a esquerda, enquanto se desenvolve a ação e retorna a Raul com um detalhe sobre sua mão e sobre a flor colhida. Ao detalhe de uma flor, chegava também a panorâmica que desviava de Taciana à direita [117]. A câmara entra então, primeiro autonomamente, no cemitério, depois seguindo Raul. Com fusão, detalhe aproximado sobre a flor [293] com o fundo fora de foco e Raul se afastando da câmara até alcançar o túmulo e Mário agora em foco. Raul deposita sobre o túmulo com grades a flor, assim como Taciana havia deixado o cesto [111] aos pés da escada, depois do encontro com o marido agachado como Mário. Nos dois planos microssequências ([292] e [293]), por duas vezes ao carrinho sobre detalhe do personagem (paletó, flor) se segue o afastamento do personagem enquadrado pela câmara parada, quase como se fosse uma passagem de energia dinâmica. O contracampo [295] é emoldurado por duas hastes de uma cruz desfocada em PPP. Segue um movimento da câmara do detalhe dos cabelos ao vento de Raul [296] e plano microssequência, que da PP de Raul através do túmulo alcança os pés de Mário e sobe até o seu PA [297], seguido do detalhe dos cabelos lisos e penteados de Mário do alto [298]. É imediata a ideia do contraste entre a desordem dos cabelos de Raul e a ordem dos de Mário. Começa um outro plano micro-sequência [299] que do PA de Mário vai até a mão com duas alianças, de novo sobre Mário, e novamente sobre PA de Raul da qual parte a panorâmica alto-baixo até os pés.  Depois, panorâmica baixo-alto até a PP e panorâmica alto-baixo até o busto, quando a mão de Mário toca o paletó de Raul (cf. a luta com as mãos do [39]). Mário olha Raul, fala, nota as duas alianças, olha a sua, sorri e recoloca a aliança no paletó. As alianças ligam a história amorosa de Raul à de Taciana, ao passo que a narrativa de Olga é estranha a esses temas. A câmara reapresenta duas vezes a passagem do olhar de Mário-Raul antes do movimento das mãos e depois o rosto. Então, desce aos pés que esmagam um sapo, como para neutralizar um mal, e volta ao rosto para estabilizar à metade do corpo. Os dois aparecem juntos de perfil [300] e Mário pede a Raul para acender o cigarro. A câmara desce do PP de Raul de perfil [301] até o bolso do paletó (de onde tira um cigarro) e sobe novamente até a cabeça (coloca na boca o cigarro), desce até suas mãos (que têm o palito de fósforo) e sobe até a cabeça (acende o seu cigarro e se aproxima do de Mário que entrou em campo). A câmara se move verticalmente, procurando os detalhes da ação. Segue o detalhe do perfil de Mário e a mão com a piteira vazia [302]. A cabeça de Mário sai de campo e entra em campo a mão de Raul. Sai de campo a mão de Mário e permanece em campo o perfil de Raul espantado e a sua mão. Também nesse caso, a câmara vai procurando o ponto em que se focaliza a ação. Depois desta série de detalhes, são enquadrados os dois [303]: Raul é quem se ergue (estava curvado na direção de Mário), colocando o cigarro na boca. O cigarro de Raul não tem fumaça, como não está aceso o de Mário e o próprio Raul tenta, inutilmente, mais vezes acender o cigarro ([285] e [286]). São todos os atos em falso que sublinham os limites do cotidiano. Mário em PA do alto [304] é enquadrado pelos dois lados das bordas desfocadas das costas e da nuca de Raul em PPP. Mário se ergue e fala. Aparece a primeira legenda do filme [305] que, como as outras duas, é de tipo dialógico e relacionável às outras, fazendo parte de um mesmo período gramatical. Mário continua a falar [306] e aponta [307] o túmulo sobre o qual se dirige a câmara. O gesto precede o plano de Mário em PP que fala [308] e a segunda legenda [309], a cujo conteúdo se refere. Novamente, PP de Mário e depois PP com expressão violenta [310] e fusão com PP de Mário falando: terceira legenda [312]. O conteúdo literal das legendas apresenta uma estrutura sintática complexa e de compreensão não imediata, que se destaca daquela que é a tradicional função explicativa das legendas. No nosso caso, a legenda não ilustra nem esclarece, mas sim acrescenta elementos de ambiguidade. Fecha a sequência o PP de Mário com a boca não enquadrada [313]: não há mais nada a acrescentar. Fusão.

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