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Decupagem

Sequência 4

História de Taciana – 4.1. praia e vilarejo

82 – Detalhe peixe que agoniza /
83 – Detalhe do barco na praia, de baixo /
84 – Rapaz com peixe que avança e sai de campo à dir. /
85 – Mãos de pescadores que contam dinheiro /
86 – Uma mão retira a água do barco /
87 – Detalhe de um cesto do alto, do qual é retirado um peixe. Entra em c. da dir. uma sombra e a cesta é levantada. Em c. apenas a sombra /
88 – Detalhe do barco, de baixo /
89 – PG da praia /
90 – Carrinho para a frente sobre uma fonte /
91 – Casario deitado /
92 – Mulher em PM que está lavando. Pan. dir-esq sobre a estrada com galinhas /
93 – Carrinho para a frente sobre a fonte por três vezes /
94 – Ponte /
95 – Casario com roda de carro em PP /
96 – Carrinho para frente sobre a fonte por cinco vezes /
97 – Detalhe do telhado. Pan. esq-dir, oscilações repetidas por três vezes sobre o telhado e pan. veloz esq-dir sobre as casas do vilarejo /
98 – PG da praia. Taciana sai do grupo de pessoas, ultrapassada por uma mulata que sai de campo à esquerda /
99 – PG da estrada. Passa um caminhão. Taciana é mostrada, afastando-se /
100 – Carrinho para frente do alto sobre folhas das árvores e Taciana, que passa e se afasta /
101 – Detalhe do cesto seguido de carrinho para frente
102 – Detalhe do cesto mais cheio seguido de carrinho para frente /
103 – PG da estrada vazia. Taciana entra em c. da esq. e se afasta /
104 – Detalhe das costas de Taciana que se afasta, seguida de carrinho para a frente até a porta de casa e entra. Carr. para a frente e pan. esq-dir até enquadrar toda a porta, depois pan. alto-baixo sobre sua parte inferior /

Com uma fusão se passa ao plano do peixe arfante [82] que morfologicamente prenuncia o plano seguinte do barco. Fragelli sublinha como Raul, ser terrestre na água, se funde com o peixe, animal aquático na terra, sublinhando uma ideia de morte devida à não correspondência entre indivíduo e ambiente. Segue um carrinho sobre a entrada de uma fonte [90], que é o primeiro de uma série que se seguirá. Segue o plano deitado [91] da fachada de um palacete. Depois, a pan. [92] que desloca a atenção para uma mulher que lava roupa na estrada, retorna o carr. sobre a fonte, uma espécie de zoom, com uma precisa intenção reiterativa, apresentada inicialmente por três vezes [93], intercalado pelo plano de uma ponte e o de um casario visto através de uma roda, e depois repetida outras cinco vezes [96]. A panorâmica [97] sobre os telhados associa ritmos de velocidades diversas. Volta-se para a praia e Taciana se destaca do grupo de figurantes [98]. Lembramos que, na primeira história, o contato com a protagonista tinha sido imediato (cf. [39]). Taciana é ultrapassada por uma figurante e depois a fusão com a estrada [99] aparece após a passagem de um caminhão, que é o primeiro elemento que movimenta a estrada, até então vista sempre deserta. Vê-se Taciana do alto após haver passado pelos ramos das árvores para depois afastar-se [100]. A figurante, o caminhão e a folhagem são elementos-tela que mediam a relação espectador-Taciana. O detalhe do alto do cesto quase vazio [101] se funde com o do cesto cheio [102] que diminui a velocidade da caminhada de Taciana. Neste ponto se opera uma mudança na música. O plano da estrada vazia, da entrada em campo do personagem e do seu afastamento [103], lembra aquele da história de Olga (cf. [41]). Do desfoque da blusa de Taciana de costas, a câmera segue em carr. para a frente, a seguindo a caminhada de Taciana até que ela entra em casa (sai portanto de campo) e continua autonomamente até o detalhe da porta, esperando por um certo lapso de tempo [104]. Corte.

História de Taciana – 4.2. encontro com o homem em casa

105 – Do alto da escada um homem de costas. Taciana entra em casa, para ao pé da escada, olhando o homem /
106 – Do alto, mulher em PM que olha /
107 – De baixo, homem sentado na escada /
108 – Detalhe: mão com aliança /
109 – Do alto, Taciana em PA que abaixa a cabeça /
110 – De baixo, PA de Taciana apoiada no corrimão /
111 – Do alto da escada, os dois. Taciana deixa a cesta, se afasta e sai /
112 – Detalhe: capa de uma partitura musical /

O plano do alto da escada apresenta um homem com chapéu de costas e o quarto vazio [105], depois entra Taciana e para aos pés da escada. Cronologicamente, portanto, este plano deveria preceder aquele do detalhe da porta no qual Taciana já havia entrado em casa. Trata-se de um procedimento antielíptico, pelo qual se prefere fazer uma regressão temporal quando há uma mudança no espaço. Pela primeira vez, no curso de sua história, Taciana mostra claramente o seu rosto [106], então também, o rosto do homem visto de baixo [107] e o detalhe da mão do homem com a aliança [108] que, recordando à mulher a união nefasta, assume a função de algema. Olga é enquadrada primeiro do alto [109], e depois de baixo [110], com uma mão apoiada no corrimão, espécie de grade de uma situação aprisionante (cf. [39]). Volta o plano do início da sequência com Olga que sai pela porta [111]. O detalhe de uma partitura musical [112] com capa desenhada conota o imaginário do homem, pianista. Corte.

História de Taciana – 4.3. fuga da casa

113 – Porta fechada. Taciana sai. Pan. esq-dir a segue até a sua saída de campo à dir. /
114 – PG da estrada, do alto. Um homem à esq. e Taciana à dir. entram em c. e se aproximam, parando um diante do outro /
115 – Os dois e um poste telegráfico de baixo /
116 – PG da estrada do alto.
117 – PG da estrada. Taciana caminha, seguida pelo carrinho para frente, e se aproxima de uma menina. Pan. esq-dir até uma cerca de bambu e pan. de cima para baixo sobre o detalhe de uma flor /
118 – PG da estrada vazia em diagonal com o capinzal. Taciana entra em c. da esq. e depois sai à dir.
Fusão

Volta o detalhe da porta fechada (cf. [104]), com Taciana que sai [113], recolocando o discurso antielíptico acima referido e sublinhando a expectativa da câmara espectador que segue Taciana. A estrada do alto é intercalada por linhas diagonais: calçadas, muros, fios telegráficos. Nela, todos os elementos evocam os limites: janelas com grades, portas fechadas, os mesmos muros. O encontro na estrada com o homem é enquadrado com uma exasperada angulação de baixo e a presença de um poste de telégrafo [115]. Volta-se a um PG do qual os dois saem de campo [116]. Começa um plano-microssequência [117], análogo àquele da fuga de Olga (cf. [44]), onde a câmara deixa distanciar-se Taciana, que encontra uma menina e depois desvia-se, agora para a esquerda, em direção a uma flor. Dessa vez, a estrada é povoada. De resto, Taciana é um personagem mais social, em contato com diversas pessoas (figurantes na praia, marido, homem na estrada, menina). A estrada diagonal com bambu, espécie de postes telegráficos naturais, está vazia. Taciana entra em campo [118], precedida por sua sombra, e sai de campo com o habitual costume da câmara de chegar ao lugar antes da ação e permanecer lá, depois dela. Fusão.

História de Taciana – 4.4. pensamentos de Taciana

119 – Rocha
120 – Rocha mais próxima
121 – Rocha ainda mais próxima
122 – PP de Taciana, que olha o mar e em volta /
123 – Taciana de costas diante do mar /
124 – PP rosto de Taciana. Carrinho avança sobre sua boca /
125 – PA de Taciana de costas diante do mar. Pan. esq-dir sobre a paisagem: depois, por cinco vezes a câmara descreve um 8 invertido e por quatro vezes faz um giro de 360º e pan. veloz no sentido dir-esq.
126 – PG com Taciana de longe ao lado de uma moita /
127 – PA de Taciana do alto de costas. Pan. esq-dir sobre o mar
128 – Mar penumbroso
129 – Mar cintilante
130 – PD mãos do pianista sobre o teclado
131 – PPP de baixo do rosto do pianista
132 – Det. pés do homem de frente
133 – PD do copo. Entra em campo da esq. uma mão, que o segura e o recoloca em seu lugar
134 – Mar cintilante
135 – Mar penumbroso
136 – Mar mais claro. Pan. dir-esq sobre Taciana /
137 – Detalhe, árvore sobre a água /
138 – Detalhe, moita /
139 – PD árvore sobre a água
140 – PG com Taciana sobre a rocha de perfil
Fusão

A fusão do plano da rocha [121] com o PP de Taciana [122] lembra aquela da abertura da sequência 0 (cf. [10] e [11]). Taciana, entretanto, não olha o espectador como Olga na protoimagem, mas mantém o olhar para baixo na direção do mar, depois olha em volta, e de novo para o mar, com os cabelos ao vento. O enquadramento de Taciana em PA de trás, diante do mar [123], com a blusa ao vento, que contextualiza o personagem, lembra aquele de Olga isolada sobre a proa do barco (cf. [80]). Taciana em PP [124] se desespera e há um carrinho para frente até o detalhe da boca e do nariz. Retornando a Taciana de costas [125], a câmara começa a fazer acrobacias sobre a paisagem, em particular, descrevendo o símbolo matemático do infinito (metafórico?) e um círculo. Do plano de Taciana de costas de meio-perfil [127], a câmara vai para o mar, como acontecia na sequência 3 (cf. [77]). Aqui o mar se faz mais escuro [128] e depois, cintilante ([129], cf.[14]) e o brilho se funde com os brancos do teclado do piano [130]. PP do pianista de perfil e de baixo [131] e, depois, detalhe dos pés [132] com sapatos estragados. Um olhar preciso sobre o personagem que nos faz identificar o homem já encontrado na casa de Taciana e que conota o estado de indigência. O brilho da água do copo [133] se funde com o brilho do mar. (Neste ponto, muda a música). Volta-se ao contexto: a árvore inclinada [139] que revira o eixo diagonal (fusão) com Taciana inclinada sobre a rocha [140]. Fusão.

História de Taciana – 4.5. cinema

141 – Paisagem noturna. Carrinho de baixo para cima
142 – PG da estrada. Brutus (pianista) avança e para /
143 – PD da mão que apanha uma ferradura e sai de campo à direita /
144 – PA de Brutus que se ergue, olha a ferradura e a atira ao chão, saindo de cena /
145 – Fachada do casario. Brutus entra em c. da esquerda. Pan. esq-dir sobre ele até a porta do cinema, onde entra /
146 – Cadeira. Entra em c. da direita a sombra de Brutus, que deixa o jornal, o sobretudo e o chapéu. A sombra sai de c. à direita /
147 – Tela branca
148 – Escuro /
149 – Tela com o título CARLITO ENCRENCOU A ZONA. Carlitos com roupa de presidiário sai de um buraco / PM de Carlitos perto do guarda / PA do guarda /
150 – Pianista de perfil, do alto /
151 – Carlitos sai do buraco / PA do guarda / PM com Carlitos que foge /
152 – Pianista de perfil, do alto /
153 – Detalhe: mãos de Brutus sobre o teclado /
154 – Detalhe: boca que ri de perfil /
155 – Detalhe: boca que ri de meio-perfil /
156 – Detalhe: boca que ri de frente (homem) /
157 – Detalhe: rosto de homem que esfrega o nariz /
158 – Detalhe: boca que ri de meio-perfil /
159 – Detalhe: da boca que ri de frente /
160 – Detalhe: testa reclinada de Edgar que dorme /
161 – Detalhe: riso de meio-perfil /
162 – Pianista que toca /
163 – A platéia em PM que ri /
164 – Detalhe: riso de meio-perfil /

166 – A platéia em PM que ri /
167 – Pianista que toca /
168 – Detalhe: riso de meio-perfil de mulher /
169 – Detalhe: rosto de homem de perfil que esfrega o nariz /
170 – Detalhe: riso de perfil /
171 – A plateia em PM que ri /
172 – Detalhe: cabeça reclinada de Edgar que dorme /
173 – Pianista que toca /
174 – Detalhe: riso de meio-perfil /
175 – Detalhe: riso de meio-perfil /
176 – A plateia em PM que ri /
177 – Pianista que toca /
178 – Detalhe: riso de frente /
179 – A plateia em PM que ri /
180 – Detalhe: riso de perfil /
181 – Detalhe: cabeça reclinada de Edgar que dorme /
182 – Detalhe: riso de frente /
183 – A plateia em PM que ri /
184 – Detalhe: riso de meio-perfil /
185 – Pianista que toca /
186 – Detalhe: cabeça reclinada de Edgar que dorme /
187 – Pianista que toca /
188 – Detalhe: riso de meio-perfil /
189 – A plateia em PM que ri /
190 – Detalhe: mãos de Brutus sobre o teclado
191 – Detalhe: riso de frente /
192 – Detalhe: mãos de Brutus sobre o teclado
193 – Porta. Pan. esq-dir sobre a janela /
Fusão

A sequência se abre [141] com um movimento ascensional da câmara. Em correspondência ao encontro por parte de Brutus de uma ferradura na rua, se opera uma mudança na música. A rua [142] vazia acolhe em campo o personagem que, depois da inserção do detalhe da ferradura, sai de campo [144]. A estrada vazia na partida torna-se desimpedida. A câmara, que segue Brutus depois que entrou em campo até a porta do cinema onde entra, demora-se sobre ela. No plano da cadeira [146], entra em campo a sombra que conduz a ação, atirando a partitura e o chapéu, elementos que o fazem reconhecer como o homem do encontro na casa com Taciana, isto é, seu marido. Corte: aparecem sobre a tela branca [147] as imagens do filme “The adventurer”, de Charles Chaplin, de 1917, na sequência da fuga da prisão [149] e [151]. A tela é posicionada ligeiramente em diagonal. À presença do tema do cinema no cinema se associa aquele da fuga (representada por Carlitos) na fuga (representada em Limite). Uma construção em abismo (mise en abÿme) surge então, no plano conteudístico e formal (mais precisamente, metalinguístico). A sequência do filme é intercalada com o plano do pianista do alto [150], retomada no final da sequência, e seguida do detalhe dos toques do piano com as aristocráticas mãos de Brutus que se põem em contraste com a vulgaridade das risadas que se seguem. Nesta parte, a música é diegética, enquanto que quando o pianista tocava na sequência dos pensamentos de Taciana (cf. [131]) ela era extradiegética e o pianista era apresentado com o chapéu (como na casa de Taciana) e vestido de maneira desleixada. Abre-se a microssequência do riso do público obtida com a montagem fechada sempre mais rápida de detalhes de bocas sorridentes de diversos personagens da plateia com angulações diversas (de baixo, do alto, de frente, de meio-perfil, de perfil), alternadas com detalhes de um personagem que assoa o nariz e de um outro (Edgar Brasil) dormindo enquadrado de modo muito encolhido e ainda do detalhe das mãos de Brutus sobre o teclado, do pianista em PA que toca e dos grupos de espectadores. Durante esta parte [153-192], que se abre e se fecha com o detalhe do teclado do piano, a música muda, dissolvendo-se na Gymnopédie e criando assim uma certa estridência entre o estilo da coluna sonora e o conteúdo do plano. O plano da porta da casa de Taciana [193], que fechava a sequência 4.1, retorna talvez para recordar o liame entre a cena do cinema, de ambiente diverso, e a história de Taciana. Panorâmica sobre a janela e sobre os reflexos do vidro. Fusão.

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