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Decupagem

Sequência 2

História de Olga – 2.1. fuga da prisão

39 – Olga, vista de baixo, atrás das grades. Pan. dir-esq sobre a parede externa da prisão até a porta. Entra em cena da esq. uma mão de homem. Pan. de baixo para cima até os pés do homem, que entra na cela. Detalhe da parte inferior da porta. Carrinho para trás. Entram em c. da esquerda pés de mulher, depois pés masculinos saindo da porta. Pan. de baixo para cima até as mãos dos dois, que lutam. A mulher (Olga) sai de c. à direita. Detalhe das mãos do homem que saem de c. à esquerda. Pan. da porta esq-dir até as grades da janela vazia.
40 – A estrada de baixo. Olga entra em campo da esq e sai à direita.
41 – PG da estrada vazia. Olga entra em c. da direita e se afasta.
42 – Carrinho para frente de baixo sobre o telhado da casa.
43 – Carrinho para trás de baixo sobre folhas de árvores.
44 – PA de Olga de costas que ajeita os cabelos. A câmara manualmente avança (carrinho), gira em torno da mulher até voltar às suas costas (pan. de baixo para cima). Olga sai de c. à esquerda. Pan. dir-esq a seguir. Carrinho esq-dir sobre a estrada vazia e depois dir-esq até a cerca onde Olga está desanimada. Pan. de cima a baixo sobre ela.
45 – PG da estrada do alto com fios telegráficos, e Olga no fundo.
46 – PD roda do trem em movimento, de baixo.
47 – PD roda do trem em movimento, do alto.
Fusão

Da fusão com a quina do barco parte o plano-microssequência [39] que, do plano de Olga de baixo com o olhar voltado para baixo e as duas mãos, segurando firmemente as grades da janela-cela, avança sobre o branco da parede e a porta fechada. A câmara enquadra os pés do homem que entra em campo e a sua saída de quadro sob a porta, recua e espera. Com a panorâmica de baixo para cima até o plano dos braços que lutam se opera uma espécie de metonímia onde uma parte do corpo demanda toda a ação. A panorâmica esquerda-direita conduz a câmara ao ponto de partida: uma dinâmica circular muito frequente. A fusão que une este plano aos seguintes gira sobre o branco evocando a paisagem pela parede branca que surge durante a panorâmica e que à primeira vista poderia parecer uma fusão. Outro modo recorrente é o plano de um campo livre que o personagem que se introduz em cena percorre e depois abandona [40], que poderia pretender-se como uma variante da câmara-espectador da qual se falou. Algumas vezes [41], entra em campo uma sombra que antecipa o personagem. Os carrinhos sucessivos [42] e [43], sendo no início para frente, e depois para trás, determinam uma ulterior circularidade formal, mas conteudisticamente aludem à passagem de um contexto microurbano (tetos), a um campestre (árvores). Partindo do PA de Olga de costas [44], começa um outro plano-microssequência onde a câmara se faz tátil, circundando o corpo de Olga que neste sentido é o personagem mais próximo do espectador. É Olga de fato que, no início e no final do filme, olha direto para a câmara. Nesse movimento da câmara, não vemos o rosto da mulher que percebemos de costas a ajeitar os cabelos. Segundo Peixoto, esse movimento de câmara seria a materialização do vento como conta a Pereira de Mello. A câmara depois retorna autônoma, faz um carrinho à direita e retorna para trás (circularidade formal), aproximando-se de Olga agachada, que ainda não revela o seu rosto. Os fios telegráficos da estrada [45], elementos recorrentes que neste caso como diretrizes de perspectiva convergem em Olga para o infinito, evocam, segundo Fragelli, aqueles usados pela máquina de costura pouco mais adiante. Ao plano da roda do trem tomado de baixo [46], segue-se um plano oposto do alto [47]. Fusão.

História de Olga – 2.2. a casa

48 – Detalhe da roda da máquina de costura, de baixo /
49 – Olga do alto, costurando /
50 – PP rosto de Olga com a máquina de costura; ajeita os cabelos, ergue o olhar e abaixa a cabeça /
51 – Janela da casa
52 – Detalhe do ovo para costurar
53 – Detalhe dos botões automáticos
54 – Detalhe do carretel de linha
55 – Detalhe dos botões
56 – Detalhe da fita métrica de costureira /
57 – Detalhe da tesoura /
58 – PP rosto de Olga que arruma o fio e olha para a janela /
59 – Detalhe da mão que costura com a máquina o tecido, segundo um molde desenhado
60 – Olga do alto que costura à mão /
61 – Detalhe da tesoura. A mão se corta
Fusão.

Por fusão ainda, de baixo, o plano ora da roda ora da máquina de costura, que estabelece uma imediata analogia, sublinhando como a fuga (roda do trem) desemboca em uma limitação (roda da máquina de costura) [48]. O plano seguinte [49] contextualiza a ação, apresentando Olga no trabalho. A mulher arruma os cabelos e se vê finalmente seu rosto [50]. Seu olhar vai até a janela-prisão. Do branco do céu [51], passa-se ao branco do ovo para a costura [52], que abre a sucessão de macrofotografia de objetos-acessórios de trabalho reconhecíveis, também, pelas inscrições (carretel DMC – RETORS D’ALSACE 30, 25 gr, metro de alfaiate com o n.º 13 em PP). Os objetos têm formas que se podem remontar àquelas circulares e são todas enquadradas do alto, colocadas segundo o vetor baixo-esquerda/alto-direita, com evidentes relações morfológicas entre si. A disposição de quatro dos botões automáticos [53] é relacionada aos quatro buracos dos botões [55] ou à disposição do metro [56] em espiral é retomada sob a forma do cabo da tesoura [57]. Olga se volta duas vezes a olhar para a janela [58] como Raul para Taciana (cf. [32]). Um modelo desenhado está ao lado da máquina de costura: uma espécie de revista feminina, primeira presença de papel impresso [59]. O segundo detalhe da tesoura [61] põe em relevo a lâmina e a sua forma em V, portando a ideia do corte. Fusão.

História de Olga – 2.3. fuga da fábrica

62 – Detalhe do jornal em V /
63 – Detalhe: pés de Olga. Carrinho de baixo para cima até o jornal e carr. para frente sobre a notícia: Fuga de prisão. A cumplicidade de um carcereiro. Olga vira a página, mostrando seus cabelos despenteados. Carrinho de cima para baixo até os pés e carr. para trás, ainda sobre os pés /
64 – Detalhe do ângulo superior do prédio /
65 – Vidraça de uma casa. Carrinho para frente /
66 – Estrada com vento /
67 – Parte da casa com janela aberta, de baixo. A janela é fechada /
68 – Detalhe da porta que bate /
69 – Detalhe da roda do trem do alto
Fusão

Por fusão, o V da tesoura se liga ao V do jornal [62]. Retorna o detalhe dos pés femininos e a câmara faz travelling sobre seu corpo, dando um outro exemplo de câmara tátil, andando sobre o jornal, cujo branco destaca. O carrinho para frente na direção do jornal torna possível a leitura da notícia da fuga da prisão e também de outros anúncios publicitários, uma espécie de legenda diegética [63]. A notícia é primeiramente lida pela câmara-espectador e, em seguida, por Olga que, virando a página e mostrando nesse momento o seu rosto, termina a leitura do fato. Esta notícia é a exteriorização de um corte no entrecho já ocorrido (fuga da prisão) e relacionado à tesoura no final da sequência anterior (que abre a fuga da fábrica) e à forma do jornal na abertura desta sequência. No momento em que começa a segunda fuga, toma-se consciência da primeira. Quando a câmara se desloca ainda sobre as pernas de Olga (o habitual movimento circular de avanço e retorno), suas meias apresentam um desfibramento, mais precisamente, corte de fios que metaforicamente podemos considerar fios do entrecho narrativo. Concluído o plano-microssequência, são planos contextualizantes e manifestantes o vento na estrada, com objetos que vagam e fogem [66]. Entre eles, há um breve carrinho [65] sobre uma janela que se fecha [67] em corte de guilhotina. (Começa uma parte particularmente danificada). A roda do trem [69] revela agora, também, a segunda fuga. Fusão

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