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Biografia

Mário Peixoto

1908

Nasce Mário Peixoto, provavelmente em Bruxelas, onde viveu até os 2 anos.

1917

Ingressa no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria, onde conhece Octávio de Faria e Plínio Süssekind Rocha.

1926

Viaja para a Europa.

1927

Retorna ao Brasil e conhece Brutus Pedreira e Adhemar Gonzaga.

1929

Retorna de uma curta viagem à Europa. Escreve o roteiro de Limite.

1930

Realiza Limite, em Mangaratiba.

1931

Limite é exibido em sessão especial. Filma Onde a Terra Acaba, que não foi concluído. Publica seu primeiro livro: Mundéu.

1934

Em 1934 e 1935, publica O Inútil de Cada Um.

1936

Tenta realizar Maré Baixa, mas não efetiva sua filmagem.

1938

Projeta realizar Três Contra o Mundo, com Eva Schnoor.

1947

Escreve Sargaço, que viraria A Alma, Segundo Salustre.

1992

Mário Peixoto morre no Rio de Janeiro, vítima de ataque cardíaco.

Mário Peixoto dizia chamar-se Mário José Breves Rodrigues Peixoto, mas todos os seus documentos conhecidos estão em nome de Mário Breves Peixoto. Era filho de João Cornélio Rodrigues Peixoto e de Carmen Breves Rodrigues Peixoto. Ela, descendente do comendador Joaquim José de Souza Breves, maior plantador de café do império – e também o maior traficante de escravos; ele, de usineiros de açúcar de Campos, os Rodrigues Peixoto. João Cornélio frequentou a Escola Politécnica e há evidências de que estudou química na Bélgica – quando, então, teria nascido Mário Peixoto. De volta ao Brasil, parece ter trabalhado sem remuneração no Jardim Botânico. Os pais eram parentes: Carmen era prima da sogra, Cornélia Rodrigues Peixoto. Na verdade, a fortuna de Mário Peixoto vinha dos Rodrigues Peixoto, e não dos Breves, já empobrecidos naquela época.

Mário Peixoto dizia ter nascido em Bruxelas, na Bélgica, o que é provável, mas não certo, e o seu “My diary”, escrito na Inglaterra, em 1927, revela a data: 25 de março de 1908 – mesmo dia, mês e ano do nascimento do diretor de cinema que mais admirava: David Lean.

Mário Peixoto dizia também que ficou na Bélgica até os dois anos de idade. Teve dois irmãos: Luiz José, falecido em 1913, com três anos incompletos, no Brasil, e Octávio, nascido em 1922, mesmo ano da morte de sua mãe, Carmen.

Em 1917 entrou para o Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria onde permaneceu até 1926, quando interrompeu o curso, no último ano, para seguir para a Inglaterra. Até então, dividia seu tempo entre a residência do avô paterno, em Almirante Tamandaré, 35, no Flamengo; a casa de verão da família na Av. Koehler, 190, em Petrópolis, e a fazenda Santa Cecília, igualmente do avô, em Volta Redonda.

Mário Peixoto ficou no Hopedene College, em Willingdon, próximo a Eastbourne, no Sussex, na Inglaterra, de outubro de 1926 a agosto de 1927. Não foi uma estada feliz para ele – mas foi importante. Mário detestou o clima inglês, a formalidade britânica e lá, descobriu que queria ser ator. De volta ao Brasil, em setembro de 1927, o poeta, dramaturgo e acadêmico Cláudio de Souza apresentou-o a Brutus Pedreira, que o levou para o Teatro de Brinquedo. Foi lá que conheceu os irmãos Sylvio e Raul Schnoor e, depois, na casa deles, a irmã Eva. Nessa casa também conheceu, no decorrer de 1928, Adhemar Gonzaga e Pedro Lima que realizavam, nos fins de semana, “Barro Humano“, cuja “estrêla” era Eva. Possivelmente, nessa fase, despertou-se nele a vontade de fazer – ou interpretar, já que queria ser ator – um filme.

Em 1928, fundou-se o Chaplin Club, um clube de discussão teórica sobre cinema, do qual participava Octávio de Faria, amigo de infância de Mário Peixoto e seu interlocutor privilegiado. É possível que as discussões teóricas do clube chegassem até Mário, completando o que estava aprendendo praticamente, vendo “Barro Humano” ser feito. Mário Peixoto, no entanto, nunca participou nem das discussões nem dos debates do clube.

Possivelmente foi o desejo de informar-se mais sobre cinema e ver mais filmes que fez com que Mário voltasse à Europa em junho de 1929 – dessa vez, em companhia do pai. Foi uma estada relativamente curta: de Londres, manteve correspondência com Octávio de Faria, então em Paris. Octávio orientou Mário sobre o que deveria ver quando viesse a Paris. Provavelmente essa correspondência, tanto sobre cinema quanto literatura, complementava as conversas entre os dois, às quais Mário Peixoto dava grande importância. Não temos notícia do que Mário viu em Londres ou em Paris, durante essa estada, mas basta ler os jornais da época para sabermos o que poderia ter visto. Não há também qualquer notícia de que tenha frequentado qualquer grupo artístico, literário, intelectual ou cinematográfico.

Foi provavelmente nessa estada em Paris que Mário Peixoto viu a imagem que, segundo ele, deu origem a LIMITE: a capa da revista Vu, a de n.º 74 de 14 de agosto de 1929 – a face feminina, de frente, grandes olhos fixos: braços masculinos cercam a cabeça da moça e exibem, em primeiro plano, as mãos algemadas. Segundo Mário, naquela mesma noite, escreveu um draft, corporificando a emoção que tinha sentido ao ver a figura da capa.

De volta ao Brasil, em outubro de 1929, Mário Peixoto voltou a frequentar a casa de Mme. Schnoor, provavelmente o Teatro de Brinquedo e é muito possível que estivesse presente aos sets de filmagem de “Lábios sem Beijos” e de “Saudade”, os dois filmes não terminados de Adhemar Gonzaga. É possível, também, que tenha conhecido, neste intervalo, tanto Carmen Santos quanto Edgar Brasil.

A vontade de fazer um filme transformou-se na decisão de fazer um filme – e nasceu Limite.

Concluído, Limite não conseguiu distribuição comercial apesar dos esforços de Adhemar Gonzaga mas o Chaplin Club patrocinou a estreia do filme, em 17 de maio de 1931, no Capitólio, às 10:30 da manhã – e muitos artigos apareceriam em consequência dessa exibição.

Ainda em maio de 1931, Mário iniciou a filmagem de “Onde a Terra Acaba” – uma produção cara e ambiciosa, financiada por Carmen Santos, também atriz principal do filme. As filmagens começaram em maio e a cobertura publicitária, na imprensa, foi intensa, mas, por volta de dezembro, ficou claro o rompimento entre Carmen Santos e Mário Peixoto e o filme foi interrompido. Também em 1931, Mário Peixoto publicou “Mundéu“, livro de poemas. Em 1934 e 1935, publicou “O Inútil de Cada Um“.

Em 1936, projetou, com Pedro Lima, um filme chamado “Constância”, que Pedro Lima recusou. Mário então projetou “Maré Baixa”, também chamado “Mormaço”. Atores foram escolhidos, locais visitados e testes fotográficos foram feitos. No entanto, durante uma viagem de Pedro Lima, Mário Peixoto aproximou-se da Cinédia – e o projeto fracassou: Pedro Lima e Adhemar Gonzaga tinham rompido desde 1930.

Em 1937, a pedido de Carmen Santos, com quem tinha se reconciliado, desde 1934, por intermédio de Pedro Lima, Mário escreveu o “scenario” de “Tiradentes”. Carmen não usou o “scenario” que ficou com ela – e desapareceu.

Em 1938, Mário Peixoto tentou realizar “Três Contra o Mundo” com a dupla romântica de “Barro Humano”: Eva Schnoor e Carlos Modesto, já então casados. Nesse mesmo ano, ganhou de presente do pai, o Sítio do Morcego e o apartamento da rua Souza Lima.

Em 1946, com o fim da Segunda Guerra, o cinema brasileiro ganhou novamente “momentum” e Mário Peixoto, com Carmen Santos e Afonso Campiglia pensaram em voltar a filmar “Onde a Terra Acaba”, em versão falada. O projeto não teve seguimento.

Possivelmente em 1947, adaptou em “scenario” o “ABC de Castro Alves” de Jorge Amado para Carmen Santos, mas o filme não foi realizado. O “scenario” ficou com Carmen – e desapareceu.

No ano seguinte, 1948, Rui Santos e Afonso Campiglia anunciaram que produziriam dois filmes: “Sargaço” de Mário Peixoto e “Muiraquitã” de Jonald, o crítico de cinema de A Noite. As notícias se multiplicam nos jornais, mas logo anunciou-se que os dois filmes seriam substituídos por outro: “Estrêla da Manhã”, com “scenario” de Jorge Amado, fotografia de Rui Santos e direção de Jonald. O nome de Mário Peixoto desapareceu dos noticiários, junto com “Sargaço” e Mário transformou o “scenario” do filme em “A Alma Segundo Salustre“. Desde então, Mário Peixoto fixou-se nesse projeto e nunca mais admitiu realizar outro. Ao longo dos anos que se seguiram, muitas notícias apareceram sobre a realização deste filme. Em 1983, Carlos Augusto Calil publicou, pela Embrafilme, o “scenario” de “A Alma Segundo Salustre”. Em 1984, Mário Peixoto publicou, pela Record e graças aos esforços de Jorge Amado, o 1º volume de uma nova versão do romance de 1934/1935, “O inútil de cada um”, expandido, então, para seis volumes.

Em 1988, Limite foi escolhido, em inquérito nacional promovido pela Cinemateca Brasileira, o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Em outubro do mesmo ano, Mário Peixoto ganhou um prêmio especial do Governo do Estado do Rio de Janeiro e em janeiro de 1989, uma bolsa da Fundação Vitae para concluir os volumes restantes de “O Inútil de Cada Um”.

Em 1991 com a situação econômica em estado extremamente grave, adoeceu. Foi a generosidade verdadeiramente aristocrática de Walter Salles, que veio em seu socorro e amparou-o até o fim. Operado, teve que voltar para seu apartamento na rua Souza Lima, no Rio.

No dia 2 de fevereiro de 1992, ao meio-dia, Mário Peixoto, durante o sono, voltou para o seu Criador.

Em 1995, no ano do centenário do cinema, Limite novamente foi considerado o melhor filme brasileiro de todos os tempos, em inquérito nacional promovido pela Folha de São Paulo.

Saulo Pereira de Mello

Todas as informações contidas neste texto podem ser confirmadas no Arquivo Mário Peixoto.

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